A primeira edição do projeto “Empoderando Refugiadas” foi encerrada no dia 30 de junho, em São Paulo, com bons resultados: 33 refugiadas capacitadas e 120 representantes de empresas, consultorias em recursos humanos e entidades de assistência mobilizados e sensibilizados sobre a contratação dessas mulheres, que se consideram “novas brasileiras”.
A primeira edição do projeto “Empoderando Refugiadas” foi encerrada no dia 30 de junho, em São Paulo, com bons resultados: 33 refugiadas capacitadas e 120 representantes de empresas, consultorias em recursos humanos e entidades de assistência mobilizados e sensibilizados sobre a contratação dessas mulheres, que se consideram “novas brasileiras”.
Iniciativa do Grupo Temático de Direitos Humanos da Rede Brasil do Pacto Global, o Empoderando Refugiadas teve início em setembro de 2015 por meio de uma parceria com a Agência das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), a ONU Mulheres, a empresa de recursos humanos Fox Time, a Caritas Arquidiocesana de São Paulo e o Programa de Apoio para a Recolocação de Refugiados (PARR).
Com o apoio das Lojas Renner, da Itaipu Binacional, da Sodexo e do Consulado da Mulher, o projeto foi encerrado com o encontro “Setor Privado e Refugiados no Brasil: Diálogo e Engajamento”, na sede da Sodexo. Durante o evento, a empresa anunciou a abertura de três novas vagas. A empresa já mantém 20 refugiados e imigrantes entre seus 35 mil funcionários no país.
No total, 11 refugiadas foram encaminhadas para entrevistas em empresas. Seis delas foram empregadas e duas conseguiram vagas sem a intermediação dos parceiros do projeto. Uma das refugiadas abriu seu próprio negócio de preparação de pratos da culinária síria. Outra está sob a mira da Sodexo, que notou sua habilidade para atuar como secretária executiva. Para ampliar a empregabilidade delas, a Fox Time ofereceu, desde o início, cursos de capacitação e de preparo para o mercado de trabalho brasileiro, coaching e ajuda psicológica.
O resultado reverteu-se também em favor da própria Fox Time. Segundo Danielle Pieroni, gerente de Desenvolvimento Organizacional da empresa, a agenda com esse grupo de refugiadas contribuiu para a melhoria do ambiente de trabalho na empresa. “Vários de nossos psicólogos se voluntariam para fazer um atendimento mais frequente e profundo com as refugiadas em depressão, e nossa equipe financeira deu orientação a várias delas sobre planejamento”, comentou.
Para as empresas, a contratação e preservação de refugiadas em seus quadros de funcionários vão além do sentido humanitário. Segundo João Marques, da Emdoc, o intercâmbio de conhecimento desencadeado pela presença de um refugiado é um benefício inestimável para as empresas. A Emdoc é uma consultoria especializada em imigração e é uma das parceiras da Rede Brasil do Pacto Global. Desde 2011, a consultoria mantém o Programa de Apoio para a Recolocação dos Refugiados (PARR), criado com o apoio do ACNUR.
“Visitei 80 empresas em oito meses para conseguir uma única vaga para refugiado. Portanto, sei o valor da oferta de três vagas”, afirmou Marques, em referência à iniciativa da Sodexo. “Temos de mostrar às empresas brasileiras que elas ganham ao contratar refugiados. A lógica é a do lucro, não a de ser boazinha”, completou.
O gerente de Sustentabilidade das Lojas Renner, Vinicios Malfatti, informou que a empresa não está preocupada apenas com a contratação de refugiadas, mas também com a adaptação delas a seu novo time de trabalho e com a preparação de seus gerentes e funcionários para recebê-las. A empresa tem três refugiadas em seu quadro e oferecerá um curso de costura para 20 mulheres.
O Carrefour mencionou que pretende reservar um dia do mês para o recrutamento somente de refugiadas. Como parte da adaptação e integração de refugiados e imigrantes a suas equipes, a rede de supermercados os chama para contar suas histórias de vida aos colegas de trabalho.
Segundo Vanessa Tarantini, da Rede Brasil do Pacto Global, as próprias refugiadas amparadas pelo programa reconheceram ter aprendido sobre seus direitos no Brasil, inclusive em relação à violência doméstica, e percebido a necessidade de continuar seus estudos. “Elas disseram se sentir mais empoderadas e autoconfiantes e terem recebido uma energia muito positiva. Também pediram para darmos continuidade a esse trabalho, em especial às solicitantes de refúgio no país”, relatou Vanessa.
Para uma refugiada iraniana que prefere não se identificar, a contratação é uma oportunidade e, por isso, é preciso trabalhar com afinco para superar os possíveis descompassos de desempenho em relação às colegas brasileiras. “Aprendemos rapidamente o português e temos conhecimento de outros idiomas. Muitas de nós são profissionais qualificadas. E estamos muito dispostas a trabalhar, mesmo em posições mais modestas”, afirmou.
Dos 28.670 solicitantes de refúgio no Brasil no ano passado, 19,2% era do sexo feminino, conforme dados do Comitê Nacional para os Refugiados (Conare). Entre os que já têm status de refugiado no país, 28,2% é mulher. “Quando uma empresa contrata uma mulher, está ciente de que acolheu uma família”, afirmou Beatriz Carneiro, secretária executiva da Rede Brasil do Pacto Global. “A refugiada só se sente acolhida quando entra no mercado de trabalho e, dessa forma, alcança sua autosuficiência”, completou.
Apenas com o protocolo de solicitação de refúgio, emitido no Brasil pela Polícia Federal, as refugiadas têm direito à Carteira do Trabalho e, portanto, de ingressar no mercado formal. Também estão sob o amparo das mesmas leis que protegem as brasileiras, como a Maria da Penha, sobre violência doméstica. Mas o documento é precário – um pedaço de papel reciclado assinado e carimbado por um funcionário da PF – e não aceito por várias empresas e órgãos públicos, por desconhecimento de sua validade.
*Adaptação de matéria de Denise Chrispim, do ACNUR