Do campo à mesa dos consumidores, a indústria do agronegócio pode assumir um papel fundamental no compromisso com a sociedade para o desenvolvimento sustentável e a segurança alimentar. Na busca por contribuir com o direcionamento deste setor, que é um dos principais vetores para um futuro construído em bases mais justas, a Rede Brasileira do Pacto Global realizou uma consulta pública no dia 11 de março, na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), com a participação de 60 representantes de empresas, sindicatos e Organizações Não-Governamentais comprometidas com o tema.
No encontro, os participantes contribuíram com sugestões relacionadas ao conteúdo da versão preliminar dos Princípios Empresariais para Alimentos e Agricultura (PEAA), uma das diversas iniciativas setoriais do Pacto Global. O documento, que já foi avaliado por nove países na primeira rodada da consulta pública, realizada de setembro a novembro de 2013, conta com seis diretrizes para promover uma produção agrícola sustentável. São elas a promoção da segurança alimentar, saúde e nutrição; ser ambientalmente responsável; garantir viabilidade econômica e compartilhar valores; respeitar os direitos humanos; incentivar a boa governança e responsabilidade e aprimorar o acesso e a transferência de conhecimento, habilidades e tecnologia.
Na abertura do evento, o presidente da Rede Brasileira do Pacto Global, Jorge Soto, destacou que Alimentos e Agricultura são alguns dos temas prioritários definidos por pesquisa do Pacto Global de 2012, realizada com mais de 1700 empresas em 100 países para a definição da Agenda Pós 2015. “Pela representatividade do setor do Agronegócio no Brasil, aliada ao impacto que ele desempenha no processo de desenvolvimento mundial, precisamos mobilizar as empresas brasileiras a atuarem com responsabilidade e assim fazer a nossa parte na promoção de uma lógica menos agressiva na produção de alimentos e mais inclusiva no seu consumo”, disse.
Renata Seabra, Secretária Executiva da Rede Brasileira do Pacto Global, reforça a importância que a temática está ganhando entre as quase 600 empresas que compõem o grupo de signatários no Brasil atualmente. “Para este ano criamos o Grupo Temático de Agricultura Sustentável, que será liderado pelo Grupo André Maggi. Além de atuar na disseminação e implementação dos PEEA, o GT desenvolverá projetos e parcerias na área, aliando a plataforma internacional das Nações Unidas com ações de caráter local”.
Segundo a gerente do Pacto Global das Nações Unidas em Nova York, Adrienne Gardaz, esta é a segunda e última rodada de consultas promovidas pelas Redes Locais do Pacto Global e o documento final deve ser lançado oficialmente em setembro, durante a 69ª. Assembleia Geral da ONU. Ainda serão realizadas consultas nos Estados Unidos, Turquia, Reino Unido e outros países.
Contribuições do Brasil
O ex-ministro Roberto Rodrigues, membro do Conselho Superior de Agronegócio da Fiesp, propôs alterações na redação do documento. Ele sugeriu que a liberação dos mercados esteja presente no relatório com um dos objetivos. “O único mecanismo justo seria liberar o mercado para todo mundo”, afirmou.
Rodrigues também pediu mais clareza no que se refere ao pequeno produtor, citado em todos os seis itens que devem compor o documento. “O que é pequeno produtor? Qual o conceito que vamos ter universalmente sobre o pequeno produtor? Por tamanho? Por faturamento?”, questionou. Embora tenha reconhecido que a questão é importante, Isabella Vitalli, representante para a América Latina da Proforest, responsável pela mediação da consulta, afirmou que é difícil padronizar esse entendimento de maneira global.
O diretor do Departamento de Meio Ambiente da Fiesp, Nelson Pereira dos Reis, também participou da consulta. Segundo ele, o evento ofereceu uma oportunidade para avaliar todas as implicações da agricultura na economia e na sociedade. “Acho até que demorou um pouco para o tema da agricultura chegar a uma discussão mais detalhada e aberta dentro do Pacto Global”, disse ele.
O head de Responsabilidade Socioambiental do Rabobank, Luiz Fernando do Amaral, sugeriu uma atualização da abordagem do tema e uma simplificação da linguagem. Amaral afirmou ainda que o primeiro passo para aplicação desses princípios é que eles sejam incorporados na missão e nos valores das corporações. “Isso é algo que a gente negligencia”, alertou.
Para ele, outro ponto de atenção é “definir e esclarecer para que serve esse documento e principalmente para o que não serve. É muito importante alinhar as expectativas”. “Um relatório, para ser inovador, tem que ser simples o suficiente, sistematizado para diferentes tipos de consultas, automatizado, mas também flexível”, sugeriu.
Com informações de Alice Assunção, da Agência Indusnet Fiesp