Foto: Felipe Abreu/Rede Brasil do Pacto Global Por Flávia Mantovani Não adianta apenas aplicar sanções aos envolvidos em casos de corrupção no país.
Foto: Felipe Abreu/Rede Brasil do Pacto Global
Por Flávia Mantovani
Não adianta apenas aplicar sanções aos envolvidos em casos de corrupção no país. É preciso ir além e atuar na raiz do problema, identificando de que maneira os comportamentos ilícitos acontecem no cotidiano das empresas e prevenindo a ocorrência de novos casos.
Com isso em mente, a Rede Brasil do Pacto Global convidou representantes de 15 construtoras de diversos estados do país para uma conversa franca e participativa no dia 9 de abril, em São Paulo. O encontro foi uma das etapas do Projeto Ações Coletivas, desenvolvido em parceria com o UN Global Compact, que será concluído com o lançamento, durante o Fórum Pacto Global 2018, de uma publicação de prevenção e combate à corrupção no setor.
“É um setor bastante fragilizado neste momento, mas também fundamental para a continuidade do crescimento do país. É importante ter uma perspectiva positiva daquelas empresas que estão tentando transformar o cenário”, afirmou Reynaldo Goto, coordenador do Grupo Temático Anticorrupção da Rede Brasil do Pacto Global e diretor de Compliance da Siemens.
Goto ressaltou, durante o evento, a importância de que as próprias empresas sejam protagonistas do processo de reflexão sobre os desafios enfrentados e elaboração da cartilha final. Para isso, os 23 participantes se dividiram em cinco grupos e discutiram, no total, 13 exemplos de casos – cenários fictícios, mas que podem ser enfrentados por funcionários de qualquer construtora na rotina de trabalho. Foram realizadas duas rodadas de conversa, para que cada pessoa pudesse dar suas contribuições em quatro ou cinco situações diferentes.
Alguns exemplos das situações apresentadas: um agente público solicita ingressos para um grande evento esportivo no qual sua empresa tem camarote; um representante sindical exige emprego para pessoas conhecidas e promete, em troca, desencorajar uma greve; um amigo que trabalha na concorrência te chama para um café no dia em que sai uma licitação pública em que as duas companhias devem concorrer; um prefeito pede doações em dinheiro para uma ONG na cidade onde está sendo feita uma obra.
Os participantes, a maioria da área de compliance das empresas, discutiram como reduzir a probabilidade de que a situação aconteça e como reagir caso o problema se instale. “Para fins de treinamento, mais efetivo do que filosofar teoricamente sobre o que é certo e errado é dar exemplos ilustrativos, que as pessoas percebam como problemáticas que aparecem na mesa delas. A intenção é avisar a pessoa que ela está entrando em uma armadilha se fizer aquilo ali”, explicou Goto.
Presente na reunião, Ligia Maura Costa, professora titular da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e autora de diversos estudos internacionais sobre o assunto, elogiou a metodologia colaborativa do encontro. “Achei genial. Foi fantástico o diálogo entre as mesas, ver as pessoas se reunindo e falando de um tema tão difícil. Todo mundo aprendeu muito”, afirmou.
A professora acredita que poderá usar a cartilha em sala de aula. “Sem dúvida poderá ser utilizada. Falta material em língua portuguesa sobre esse tema”, disse ela, acrescentando que, no atual contexto brasileiro, “um evento dessa natureza reunindo as mais importantes construtoras do Brasil é fundamental”.
Participação ampliada
O projeto Ações Coletivas começou em outubro de 2016 e envolve também as redes locais do Pacto Global na Nigéria, no Japão e no Quênia. No Brasil, o documento final será lançado no dia 16 de maio, no Fórum Pacto Global, em São Paulo, e ficará disponível para consulta no website da Rede Brasil. A ideia é que o material sirva como uma ferramenta prática de treinamento e fomente a discussão sobre o tema nas empresas do setor.
Em uma etapa anterior, representantes de quatro grandes construtoras ajudaram a elaborar uma versão preliminar da cartilha. Na reunião do dia 9, a ideia foi ampliar o debate para mais empresas de tamanhos e estados diferentes. Além de construtoras com sede em São Paulo, havia companhias de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Paraná.
Para Paula Oda, coordenadora de Projetos de Integridade do Instituto Ethos, parceiro da iniciativa, a diversidade de participantes é importante porque nem sempre uma solução que vale para uma grande empresa tem aplicação para PMEs. “Todo o setor sofreu problemas nos últimos tempos e está se transformando. É preciso trabalhar em conjunto para promover essa mudança. Esse é o princípio da ação coletiva”, afirmou.
Também fizeram parte do projeto Ações Coletivas três workshops realizados em 2017: um no dia 21 de março, sobre como coibir ações corruptas, outro em 13 de junho com o título “Boas práticas e aprendizados em ações coletivas de combate à corrupção”, e o terceiro no dia 16 de agosto que ocorreu na sede do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), em São Paulo, com o nome Collaboration Lab.