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Rede Brasil lança segunda edição do Empoderando Refugiadas

Por Gabriela Bazzo A Rede Brasil do Pacto Global lançou no dia 9 de março, em São Paulo, a segunda edição do projeto Empoderando Refugiadas.

Por Gabriela Bazzo
A Rede Brasil do Pacto Global lançou no dia 9 de março, em São Paulo, a segunda edição do projeto Empoderando Refugiadas. A iniciativa, ação conjunta com a Agência da ONU para os Refugiados (ACNUR) e com a ONU Mulheres, tem como objetivo central conscientizar as empresas sobre a possibilidade legal de contratar refugiadas e preparar as mulheres para entrar no mercado de trabalho brasileiro.
“A gente pretende dar uma visão dos seus direitos como mulheres trabalhadoras e também ajudá-las, por exemplo, a compreender como se faz uma entrevista de trabalho aqui no Brasil. Também queremos capacitá-las para que consigam se inserir no mercado de trabalho brasileiro e construam a vida de um jeito economicamente sustentável. Espero que o Brasil receba vocês muito bem”, afirmou Beatriz Martins Carneiro, Secretária Executiva da Rede Brasil, em saudação às 25 mulheres que estiveram no primeiro encontro do projeto.

Uma delas era Salsabil. Natural de Damasco, na Síria, ela era dona de uma farmácia em seu país natal. “Com a guerra, tudo foi embora”, conta, sobre o conflito que completa seis anos neste mês. Radicada no Brasil há pouco mais de dois anos, depois de passar pela Jordânia e Arábia Saudita, Salsabil hoje prepara pratos árabes em sua casa, mas pretende, por meio do projeto, voltar a atuar na área farmacêutica. “A mulher tem que fazer suas coisas, ter sua vida. Não precisa ficar em casa cozinhando”, diz Salsabil, grávida de oito meses do terceiro filho – o segundo que nascerá em solo brasileiro.
Diversidade de perfis
A síria faz parte do grupo que, ao longo de quatro meses, participará de workshops com conteúdo específico para refugiadas – mercado de trabalho; direitos e cultura brasileira; espírito empreendedor e inovação e saúde e bem-estar -, sessões contínuas de coaching e mentoring e encaminhamento para entrevistas de emprego. Segundo Camila Sombra, assistente de Soluções Duráveis do ACNUR, a escolha do grupo visa refletir um pouco a comunidade de refugiadas que escolheu o Brasil para recomeçar a vida: mulheres de diversas nacionalidades e, muitas delas, com formação universitária e alto nível de qualificação.

A Thomson Reuters, parceira da iniciativa na organização e na viabilização do encontro desta quinta-feira, tem como objetivo compor 40% da sua liderança por mulheres. “Somos genuinamente preocupados com a questão da representatividade e do empoderamento da mulher, e por isso fazemos um esforço muito grande para atrair e reter mais mulheres nos nossos quadros”, comentou Andrea Ziravello, VP de Recursos Humanos da empresa.
O presidente da instituição, Santiago Ayerza, classificou a iniciativa da Rede Brasil do Pacto Global como fantástica: “É muito importante contribuir com o nosso grão de areia nessa iniciativa tão importante e que está muito próxima do nosso DNA. O que faz a diferença para a nossa empresa são as pessoas que a formam. E, para nós, é fundamental contribuir, ajudar e proporcionar essa troca de experiências para abrirmos novas oportunidades no mercado de trabalho”, afirmou.
Agenda de atividades
Ao longo do dia, as refugiadas – oriundas de países da África Subsaariana, Oriente Médio e América Latina – participaram de uma série de atividades, incluindo orientações para a elaboração adequada de um currículo, técnicas para entrevistas de emprego, conscientização sobre os direitos trabalhistas e dicas para encontrar vagas e oportunidades em redes sociais. Camila Fusco, do Facebook, enalteceu as oportunidades que podem ser encontradas por meio da rede social. “Atualmente, 114 milhões de brasileiros usam o Facebook. Imaginem se alguns deles forem os clientes de vocês”, disse. A recrutadora da Microsoft, Daniela Dellacqua, também participou das atividades.
Além de buscarem emprego, muitas refugiadas têm como projeto principal o seu próprio negócio. A congolesa Jolie Angela chegou ao Brasil há pouco mais de dois anos. Advogada por formação, ela trabalha atualmente como faxineira. Seu objetivo ao participar do Empoderando Refugiadas é buscar orientação para tirar do papel o “Sabor da África”, projeto criado por ela para trazer conforto aos africanos radicados no Brasil e aproximar os brasileiros do continente por meio da gastronomia. Mais do que um restaurante, seu empreendimento também vai entregar refeições em lugares que abrigam os refugiados, sendo ainda uma forma de facilitar a adaptação e a integração de seus conterrâneos por aqui.
Português fluente
Entre as profissionais que participaram do evento, uma unanimidade: a importância do estudo e do domínio do idioma português, um desafio para muitas delas. “Percebo que muitas refugiadas não conseguem trabalho porque o seu português é muito básico. Para trabalhar em empresa, escritório, área administrativa, o domínio do idioma precisa ser muito bom. Não pensem que um curso básico de português vai abrir muitas portas para esse tipo de vaga. Se vocês souberem de cursos avançados de português, online, gratuitos, corram atrás. As pessoas que falam português entram num outro nível de vaga aqui”, reforçou Eliane Figueiredo, do Projeto RH.
Danielle Pieroni, da FoxTime Recursos Humanos, enfatizou a importância do domínio do idioma e alertou as refugiadas sobre eventuais situações de discriminação que elas podem enfrentar. “Nem sempre a gente encontra o discurso bonito do relatório de sustentabilidade nas empresas. No dia a dia, quem está na ponta pode não ter o mesmo comprometimento com isso, e ele que vai ter o relacionamento com você, infelizmente”.
No Brasil há sete anos, Luyindula não vê no idioma um obstáculo. Falando fluentemente, ela concluiu um curso de técnico em enfermagem no Brasil e pretende encontrar um trabalho na área da saúde por meio do projeto. “Foi difícil, mas tive que aprender”, conta ela, sobre o tempo em sala de aula. Natural da República Democrática do Congo, ela também vê no emprego no Brasil uma oportunidade de ajudar o seu país: “Com o trabalho, posso mandar dinheiro de volta para lá”, disse.
Vagas nas empresas
Para fechar a tarde, as refugiadas participaram de uma sessão de mentoria com voluntários de recursos humanos. O objetivo dessa primeira conversa foi explicar um pouco da dinâmica de seleção e recrutamento no Brasil e conhecer um pouco da trajetória de cada mulher participante do projeto. Em uma das rodas de conversa estavam Cibele Delbin, consultora de Responsabilidade Social e Diversidade do Carrefour, e Yilmary Carolina, refugiada venezuelana.
Para Cibele, a contratação de refugiados e imigrantes é uma estratégia para aumentar o alcance do Carrefour junto ao público, que se identifica com um staff multicultural. “É bom para o negócio, não é caridade”, enfatiza. Atualmente, o Carrefour conta com 60 refugiados em seu quadro de funcionários em todo o Brasil. “Felizmente, não tivemos nenhum caso de insucesso. Normalmente, o refugiado vem para cá para vencer e é um funcionário com ritmo de trabalho alto, excelente capacidade de execução e altíssimo engajamento, o que traz um impacto positivo para toda a equipe”, completou.
Qualidade de vida
Terapeuta ocupacional de formação, Yilmary veio para o Brasil atrás de qualidade de vida e de melhores oportunidades para os filhos. Validar aqui o diploma emitido na Venezuela, no entanto, parece um objetivo distante. “Tem uma série de traduções que são exigidas e que, sem emprego, eu não consigo fazer”, explica ela que, atualmente, trabalha preparando doces. O ofício começou como um hobby de mãe, que fazia bolos para a filha intolerante à lactose. Hoje ela divulga os produtos nas redes sociais, e vê no Facebook uma ferramenta para impulsionar seu empreendimento.
“Meu objetivo aqui é transformar o que estou fazendo como meio de sustento para, então, validar o meu diploma e seguir fazendo o que eu gosto, que é ajudar pessoas. Não preciso de um trabalho como terapeuta, mas de uma oportunidade”, ressaltou.
O Empoderando Refugiadas é coordenado pela Rede Brasil do Pacto Global – por meio de seu Grupo Temático de Direitos Humanos e Trabalho -, numa iniciativa conjunta com o ACNUR e a ONU Mulheres. O projeto tem como parceiros estratégicos a Caritas Arquidiocesana de São Paulo, a Fox Time Recursos Humanos, o ISAE e o Programa de Apoio para a Recolocação dos Refugiados (PARR). Além disso, conta com as seguintes empresas parceiras: Carrefour, EMDOC, Facebook, Lojas Renner e Sodexo.