Representantes de empresas contribuíram para o debate sobre anticorrupção.
Representantes de empresas contribuíram para o debate sobre anticorrupção. Foto: Ricardo Jayme/Pacto Global
De Flávia Mantovani
O combate à corrupção é uma responsabilidade da sociedade como um todo, e por isso governos, empresas, universidades e ONGs devem se unir para buscar soluções contra o problema. Essa foi tônica do painel “Combate à Corrupção nas Empresas”, que reuniu representantes desses setores para discutir o papel de cada um durante o Fórum Pacto Global – 15 anos da Rede Brasil, realizado no dia 16 de maio no Masp (Museu de Arte de São Paulo).
O painel foi mediado pela jornalista Andrea Sadi, comentarista da GloboNews. Para Sadi, acostumada a cobrir os bastidores do poder em Brasília, a corrupção sistêmica é o grande problema da política nacional e deverá ser a temática protagonista da próxima eleição. “Vivemos um momento de crise ética. O Brasil se tornou monotemático em relação à corrupção”, disse, ao abrir o debate. “Estamos discutindo mudanças, buscando um desfecho”, completou.
A jornalista ressaltou o papel da mídia de fiscalizar o poder e lembrou que, em 2017, o Brasil caiu 17 posições no ranking de percepção de corrupção da Transparência Internacional. Mas disse que acredita que há uma transformação em curso:“Não sou dessa turma que acha que o Brasil não está mudando. Acho que já mudou, mas a mudança ainda não terminou”.
O ministro Wagner Rosário, do Ministério da Transparência e Controladoria Geral da União (CGU), também afirmou que o Brasil passa por um ponto de virada, um momento de crise que vai culminar em transformações estruturais.
De acordo com Rosário, o governo tem agido com base nos verbos “detectar, sancionar e prevenir”. Isso significa, em primeiro lugar, identificar as fraudes; em seguida, impor sanções, como prisões e multas, para que não se instale um clima de impunidade; e, por último, agir preventivamente, criando mecanismos para evitar a repetição de casos, produzir materiais de educação para a ética e a cidadania e criar planos de integridade não só para a União, mas também para os municípios.
Segundo ele, além das consequências materiais para os cofres públicos, a corrupção generalizada provoca a descrença da população nos governantes. “Os políticos nada mais são do que um extrato da sociedade. Como mudar a realidade de um país se as pessoas não têm muito arraigado o que vem a ser o interesse público?”, questionou. “O governo sozinho não faz nada. Não tem como mudar o cenário se não tiver a participação da sociedade”, concluiu.
Documento anticorrupção nas construtoras
Diretor de Compliance da Siemens e coordenador do Grupo de Trabalho Anticorrupção da Rede Brasil do Pacto Global, Reynaldo Goto abordou as prisões recentes de empresários ligados a casos de suborno e afirmou que, nos últimos anos, tem havido um esforço maior das empresas na prevenção à corrupção.
Goto apresentou a iniciativa da Rede Brasil do Pacto Global para combater a corrupção no setor de construção, um dos mais atingidos por escândalos no país. “Abrimos as portas para as maiores construtoras brasileiras, que vieram dizer ‘nós erramos’ e falar abertamente quais eram os típicos problemas de corrupção que enfrentavam”, explicou.
A iniciativa gerou a publicação “Integridade no Setor de Construção: Discutindo os Dilemas e Propondo Soluções para o Mercado”, que foi lançada no painel e está disponível na internet. O documento, elaborado com a colaboração das quatro maiores construtoras do país, traz 13 exemplos fictícios de desafios éticos que podem ser enfrentados por funcionários do setor, além de dicas preventivas e de solução para cada problema. A ideia é que o material sirva como uma ferramenta de treinamento. “Se nós, empresários, somos parte desse processo, temos a responsabilidade de parar esse processo”, disse Goto.
Também palestrante do painel, Heloísa Bendicks, superintendente geral do IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa), destacou a necessidade de que as políticas de integridade das empresas não fiquem apenas no papel. “Se analisarmos as empresas envolvidas na Lava Jato, antes de a operação começar elas já tinha boas práticas de compliance. Mas isso era apenas a aparência, faltava a essência”, afirmou.
Bendicks lembrou ainda que essas práticas têm que estar disseminadas por toda a empresa. “Não adianta vir só do conselho e da diretoria, tem que ir até o chão de fábrica”, defendeu.
O papel da academia também foi discutido no painel, por meio da fala de Ricardo Siqueira Campos, diretor de sustentabilidade e projetos sociais da Fundação Dom Cabral. Segundo Campos, as universidades e escolas de negócios atualmente estão empenhadas em mostrar ao executivo sua responsabilidade social à frente das organizações. “A discussão sobre ética é tema de MBAs, de cursos de negócios. E estamos colhendo frutos, há uma mudança na postura do executivo: ele pensa duas vezes nas suas atitudes, quer deixar um legado”, afirmou.
Para Campos, não existem soluções fora da política. “Nós, como cidadãos, gestores de grandes empresas, temos que ser agentes transformadores. Não vamos mudar a política de Brasília se não mudarmos nossa consciência”, afirmou.
O Fórum Pacto Global contou com o apoio da Braskem, BRK Ambiental, Vale, Basf, FDC, Copel, EDP, Enel, PWC Brasil, Sanofi, Editora Brasileira e World Observatory of Human Affairs.