Em comemoração ao Dia Mundial da Água, a Rede Brasil do Pacto Global elenca os desafios da gestão hídrica e o papel do setor privado.
O Brasil possui 12% do volume total de água doce do planeta, mais do que qualquer outro país. Isso cria uma falsa premissa de que o suprimento do recurso em boa qualidade está acessível a todos os brasileiros. Embora haja abundância de água doce no Brasil, se comparado a outros países, existe uma grande variedade de riscos e uma grande incerteza em relação a sua disponibilidade. Nesse Dia Mundial da Água (22), a Rede Brasil do Pacto Global elenca as responsabilidades do setor privado na promoção de uma gestão hídrica eficiente, além de alertar sobre os múltiplos efeitos causados sobre o meio ambiente e economia, quando o tema é negligenciado.
No geral, o Brasil tem avançado de forma lenta nas últimas décadas quando se trata da evolução do acesso a água ou ao saneamento no país. Há 12 anos, a Lei do Saneamento Básico entrou em vigor no Brasil e, ainda hoje, quase metade da população do país continua sem acesso a sistemas de esgotamento sanitário. Segundo o estudo Burocracia e Entraves no Setor de Saneamento, produzido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), o Brasil apenas conseguirá universalizar o atendimento de água em 2043, e de esgoto, em 2054 caso mantenha o ritmo atual de investimentos.
Setor Privado em ação
Nem sempre os governos sozinhos podem assumir toda a responsabilidade e frequentemente não possuem recursos técnicos e financeiros suficientes disponíveis para contribuir na melhoria do acesso à água e saneamento no país. Isso gera uma grande oportunidade para que o setor privado desempenhe um papel fundamental no fornecimento de serviços de abastecimento de água e saneamento. Enquanto governos e agências de água devem focar em estabelecer políticas e regulamentos, o setor privado pode contribuir por meio do desenvolvimento de ações e atitudes sustentáveis em suas práticas de negócios.
A iniciativa privada pode endereçar desafios hídricos ao desenvolver soluções e tecnologias inovadoras, além de influenciar a sociedade e gerar uma mudança de comportamento dos seus consumidores e fornecedores. Além disso, o setor privado têm forte poder de negociação e influência sobre a formulação de políticas. Empresas signatárias da Rede Brasil do Pacto Global têm se destacado no debate e promoção de ações e iniciativas relacionadas ao tema da água no Grupo Temático Água. As empresas se reúnem periodicamente para discutir e propor uma agenda de governança com o objetivo de engajar o setor privado na adoção de práticas sustentáveis em suas operações e em suas cadeias de abastecimento para promover o uso eficiente do insumo. Sendo assim, atua totalmente em consonância com o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 6.
Segundo o estudo “Perdas de Água 2018”, encomendado pelo Movimento Menos Perda Mais Água e realizado pelo Instituto Trata Brasil em parceria com a GO associados, estima-se que cerca de 35 milhões de cidadãos no Brasil não têm acesso a água potável e 100 milhões não possuem saneamento adequado. Nesse contexto, as empresas podem desempenhar um papel fundamental para apoiar a mudança deste cenário ao investir em tecnologias e soluções inovadoras para a gestão da água dentro das suas operações e em sua cadeia de valor.
Mulheres jovens e negras
A falta de acesso à água e ao saneamento afeta a vida das mulheres (ODS 5), reforçando a desigualdade de gênero no Brasil. Os impactos da falta de saneamento causam discriminação, exclusão, marginalização e violência contra todas as mulheres e meninas. O estudo Saneamento e a Vida da Mulher Brasileira, lançado pela BRK Ambiental em parceria com o Instituto Trata Brasil e a Rede Brasil, aponta que uma em cada quatro mulheres não tem acesso adequado à água tratada, coleta e tratamento dos esgotos. A universalização dos serviços tiraria imediatamente 630 mil mulheres da pobreza, a maior parte delas negras e jovens. No país, 27 milhões de mulheres – uma em cada quatro – não têm acesso adequado a infraestrutura sanitária, fator que gera graves impactos na vida das mulheres, uma vez que o saneamento é variável determinante em saúde, educação, renda e bem-estar dessas mulheres.
A melhoria no acesso a água e ao saneamento está entre os principais obstáculos para a realização dos direitos humanos, assim como para o alcance dos 17 objetivos de desenvolvimento sustentável da Agenda 2030.