Em passagem pelo Brasil, o fundador e diretor executivo do UN Global Compact por 15 anos, Georg Kell, se encontrou com lideranças de organizações da Rede Brasil do Pacto Global e empresas parceiras.
Em passagem pelo Brasil, o fundador e diretor executivo do UN Global Compact por 15 anos, Georg Kell, se encontrou com lideranças de organizações da Rede Brasil do Pacto Global e empresas parceiras. Durante a palestra, no dia 23 de março, na CasaE da BASF, em São Paulo, com o tema “O papel das empresas na Agenda 2030” e discussão sobre mecanismos de combate à corrupção, ele foi taxativo: “Aceite a transparência e elimine os maus hábitos, pois isso trará grandes benefícios para a sua organização. Além disso, trabalhe diretamente com as pessoas. Deixe a burocracia de lado e crie uma relação de confiança com elas”, afirmou.
Atual vice-chairman da Arabesque Partners, Kell disse que as empresas descobriram que as crises reputacionais custam caro e é infinitamente melhor evitá-las. “É mais seguro criar projetos inovadores e trabalhar a sustentabilidade como pilar estratégico. E, nesse sentido, é fundamental a dedicação das lideranças, uma vez que isso trará um melhor desempenho para as empresas”. Recebido pelo presidente da Rede Brasil do Pacto Global, André Oliveira, ele foi presenteado com uma placa em homenagem ao seu excelente trabalho na área de responsabilidade social corporativa (foto abaixo).
Segundo Kell, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) têm que estar na pauta das organizações. “Espalhar a Agenda 2030 pelo mundo é de extrema importância. Trata-se de uma revolução silenciosa, com o intuito de criar uma nova narrativa para as futuras gerações. Há 20 anos não tínhamos ferramentas para essa discussão. Ou seja, criou-se a noção material da sustentabilidade, e os CEOs têm, a partir de agora, responsabilidade nisso”, destacou.
Em relação às ações de combate à corrupção, ele reiterou o papel de empresas e organizações, que têm agora a oportunidade de liderar novas práticas, o que pode inspirar uma renovação do setor público. “Temos a responsabilidade de influenciar positivamente nesta agenda, pois funcionários que exercem funções técnicas desejam essa mudança. No final, estamos falando de pessoas”, disse. Ele comentou que a corrupção é um problema que afeta o mundo inteiro e que países como Brasil, Índia e Nigéria têm criado iniciativas interessantes para coibi-la.
Poder político
Sobre as relações entre o mercado e os governos, o fundador do UN Global Compact observou que, em alguns lugares do mundo, o mercado ainda depende do poder político de regimes, o que prejudica os negócios. “Vivemos num mundo horizontal, em que as informações estão disponíveis. É tempo de acordar, e o mercado precisa crescer, ter estruturas de apoio e espírito de colaboração, inclusive criando valor para as comunidades. É preciso habilidade para continuar a crescer, incluindo a sustentabilidade na estratégia”.
Georg Kell também comentou sobre a crise política e a recessão econômica no Brasil, que são acompanhadas de forma atenta pelo resto do mundo. “Não tenho dúvidas de que em dois anos o Brasil ficará mais forte. Os brasileiros são resilientes e identificarão os desafios para escolherem o caminho certo. Tenho certeza que o setor de sustentabilidade ajudará o Brasil a criar parcerias e traçar um novo futuro”, disse, destacando os ODS como um instrumento para ajudar o país a redescobrir suas potencialidades e se adaptar aos novos tempos.
Precificação de carbono
Para o combate efetivo às mudanças climáticas, Kell comentou que, durante a COP21, em Paris, ficou claro que todos os governos precisam se adaptar às atuais demandas, mas que os setores da economia têm que fazer a sua parte e considerar as questões sociais e ambientais em seus negócios. Ele recomendou a criação de um mecanismo de precificação de carbono. “Iniciativas isoladas de empresas não resolvem o problema. A China já está criando um sistema de precificação de carbono e, depois da COP21, a Índia mostrou um grande comprometimento em criar seu sistema. E as empresas de energia têm uma grande responsabilidade nisso”, afirmou. Ele ainda destacou o potencial do Brasil. “O fato de ter um território rico em recursos naturais traz uma vantagem competitiva nas políticas de precificar o carbono”.
O ex-diretor executivo do UN Global Compact ainda respondeu a perguntas sobre direitos humanos e infância. “Considero o tráfico de crianças e a violência e exploração sexual infantil o lado obscuro da globalização e tenho um grande arrependimento de não ter trabalhado especificamente com essa questão no UN Global Compact. Um dos pontos positivos da transparência é a coragem para falar abertamente sobre esses temas, que são um tabu. Você percebe que, com conhecimento e conscientização, pode mudar alguma coisa”, concluiu.